Intempéries

por Julian Stella

As ruínas ao fundo em suas rachaduras e frestas nos remete à algo abandonado, talvez, deixado para trás. O chão sujo e a luz conflitante não nos entrega por inteiro, o lugar. Olhando de perto percebemos a silhueta quase humanoide que se junta às ruínas ao fundo. As mãos à cabeça denotam uma impaciência e algum transtorno. Talvez solidão ou simplesmente a incapacidade de ser o ponto de cor que traria vida ao contexto, acinzentado como um grande céu em dia nublado. Mesmo assim o vil contorno humano permanece intacto como uma estátua de granito a céu aberto em um vivo cinza plúmbeo a mercê das intempéries do tempo. A parede, ou o que resta dela, tem seu trecho branco manchado de espaçados cortes escuros e abertas frestas que podem levar para longe dali ou até mesmo servir de um mero quadro, um momento estético, enquanto a sua outra metade clama por atenção descendo logo atrás de nosso imóvel personagem, como se fossem lágrimas, até tocarem o desfigurado chão. Enquanto isso a lente permanece alheia a tudo, fazendo o seu insensível e artístico papel de observador. Olhando… olhando! E de algum lugar, como se à tudo olhasse dos céus tal qual um grande Deus de antigas fábulas, a lente comandada pelo fotografo vê o que mais ninguém tinha visto até então. Não as ruínas ou a dor de nossa figura central ou os destroços que o cercam em um lugar que por outros não seria escolhido como cenário, mas sim a beleza, a antiga arte colocada à toda prova, em um filme preto e branco registrando para sempre o nosso estático protagonista.

(texto L. Maldonalle)